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Suicídio – modo de recusar

2010
psicologia@paulosobral.com
Licenciado em Psicologia pela Universidade do Porto (FPCEUP), com especialização em Consulta Psicológica de Jovens e Adultos. Consultor de Recursos Humanos. Psicólogo clínico, no sector privado.

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Suicídio – modo de recusar

 

Acabar com a própria vida é um dos maiores paradoxos da existência humana. Jamais parece encontrar-se um fundamento válido para o fenómeno. No entanto, apesar de todo o progresso tecnológico e civilizacional, o suicídio tem aumentado de forma assustadora, não destrinçando a origem social, económica ou cultural.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, estima-se que três milhares de homens e mulheres, diariamente, decidem, neste planeta, colocar um termo à existência. Em Portugal, o suicídio é a fundamental causa de óbito não natural, com predominância na faixa etária dos 15 aos 24 anos, tendo já ultrapassado os acidentes de viação, outrora a causa mor. Idêntico dado singular, é o facto de que as mulheres tentam 4 vezes mais do que os homens o acto em causa, mas os homens são triplamente mais eficazes do que elas, quando tentam fazê-lo, o que acaba por contrapesar a sombria balança.

Os alicerces do suicídio encontram-se em agentes variados: depressões profundas e continuadas, transtornos da alimentação (anorexia ou bulimia), estados mais graves de afastamento da realidade, dependências de tóxicos e de álcool, sentimento de ser um encargo ou incómodo, desânimo incessante, dificuldades familiares, problemas escolares, tentativas anteriores de pôr termo à vida, obstáculos laborais, contrariedades sentimentais, reveses financeiros, enfermidades corporais crónicas, estados de enorme isolamento social e, frequentemente, a suspeita de que se é o único do mundo a sofrer daquela forma, o que intrapsiquicamente faz parecer obsoleto procurar ajuda. Por vezes, mais do que um destes factores cooperará no estabelecimento da fatal decisão.

Com o advento da proliferação em massa das tecnologias de comunicação, incluindo as redes sociais e a generalização da internet, sobrevêm perigos acrescidos. Não porque estes utensílios modernos sejam perniciosos em si, mas porque se ampliam as possibilidades dos indivíduos em risco, para o bem e para o mal. Tanto é mais acessível encontrar fontes de auxílio, como são desimpedidas as vias para o intercâmbio de patologias e depressões, amplificando-as. Por outro lado, em vários casos já documentados, a divulgação de casos de suicídio gera um fenómeno de imitação, especialmente quando a vítima é célebre, o que nos faz deter para meditar na sociedade da informação.

De que forma podemos ajudar a regredir esta fatalidade? Aumentando o nosso estado de alerta, de vigilância, de atenção. Observando indícios de tristeza, isolamento, mudanças de humor intrigantes, diálogos sobre a temática da morte, desmazelo continuado, desespero, depressão, murmúrios ou ameaças de suicídio, más notas ou maus resultados sucessivos.

Há menos de 2 meses, no Reino Unido, uma jovem de 21 anos, Vicky Harrison, matou-se com uma overdose de remédios, após ter experimentado mais de 200 tentativas fracassadas de arranjar emprego. Como estaria ela agora se alguma figura próxima tivesse reconhecido o perigo em que se encontrava e tivesse soado o alarme? Certamente terão sobrevindo preocupantes indícios que foram invariavelmente negligenciados.

A partir do momento em que se identifica alguém em risco de cometer suicídio, deve ser procurada ajuda de forma imediata. Perante estruturas psicológicas que se encontram profundamente afectadas, poderá ser necessário recorrer ao uso de fármacos, ou até ao internamento, designadamente se existem planos e meios disponíveis para consumar o acto, ou se for estimado que a família da pessoa em risco não conseguirá envolver-se de forma proveitosa na recuperação do seu parente perigosamente perturbado. Em muitos casos, o acompanhamento psicoterapêutico regular terá efeitos benéficos manifestos, pois quando alguém crê que a própria extinção é a única saída, necessita de apoio para encontrar uma sã alternativa.

Por último, mas não menos importante, toda a gente pode ajudar, sobretudo se souber distinguir que, para quem está a correr um risco desta natureza, o mais relevante não é que alguém o ame ou compreenda, mas sim que se sinta amado e compreendido.

 

Paulo Sobral

Paulo Sobral, possui Licenciatura em Psicologia pela Universidade do Porto (FPCEUP), com especialização em Consulta Psicológica de Jovens e Adultos. É Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Iniciou a prática profissional na área da Psicologia, conciliando a actividade clínica de âmbito privado, com a de membro de uma equipa multidisciplinar do Centro de Acolhimento Aos Sem Abrigo, em Viana do Castelo, e a de Professor da disciplina de Psicologia da Comunicação no Instituto Multimédia, no Porto, pelo período de 3 anos.
Foi, durante cerca de uma década, Consultor de Recursos Humanos de variadas empresas de dimensão nacional e multinacional, na área do recrutamento, avaliação e selecção de recursos humanos.
Actualmente, desenvolve a actividade de Psicólogo Clínico, no sector privado, em Lisboa e no Porto.

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