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Tabagismo. Um fator de afirmação nos jovens?!

2017
andradesofia958@gmail.com
Mestre em Psicologia Clínica e de Aconselhamento. Formadora certificada pelo IEFP.

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Tabagismo. Um fator de afirmação nos jovens?!

De acordo com vários autores, o fumar é um processo mimético, ou seja, predisposição de uma pessoa para adaptar as opiniões e comportamentos aos de outra pessoa a quem quer agradar. Os adolescentes, adotam comportamentos aceitos na sociedade, e aprendem a fumar em contato com o seu ambiente familiar, escolar e social, considerado um comportamento psicossocial (Precioso, 1999).

O adolescente não se torna fumador espontaneamente, existem vários fatores, que podem predizer o comportamento de fumar tais como: as influências e pressões dos amigos, dos pais, os modelos apresentados pelos media, alguns fatores psicológicos, tais como a rebeldia, o exibicionismo, o desejo de impressionar os indivíduos do sexo oposto, e a simples imitação.

Podemos afirmar que a atitude e o comportamento dos amigos, dos pais, dos irmãos e dos ídolos, o desejo de ser como os colegas e fazer o que eles fazem, a dificuldade de resistir às pressões, realizadas geralmente pela oferta de cigarros e o receio de cair no ridículo pela recusa ou não adoção de um comportamento generalizado no grupo, o desconhecimento dos riscos do fumo do cigarro, o desejo de querer ser e comportar-se como adulto, expressão de independência face à infância, a curiosidade natural do indivíduo, e algumas crenças relacionadas com o fumo, tais como, “o tabaco emagrece”, “ajuda a esquecer” e a “resolver os problemas”, foram desde sempre fatores influentes na adoção do hábito de fumar.

 

Nos adolescentes por exemplo, a busca de identidade leva à aquisição de diferentes papéis permitindo ao adolescente formar um novo Eu que lhe é próprio e característico.

Cada vez mais o grupo de companheiros proporciona ao adolescente uma oportunidade de identificação, por vezes a força do grupo vai contrariar a vontade do indivíduo, anulando-se a si próprio, adotando atitudes que contrariam por vezes a sua vontade, mas se não o fizer pode não ser bem visto ou aceite perante o grupo de pares.

De acordo com alguns autores nomeadamente, Precioso (1999) existem alguns fatores que podem contribuir para a aquisição do hábito de fumar, tais como: fatores sociais, ambientais e pessoais. O comportamento dos amigos, no que respeita ao tabaco, é o fator social mais influente na aquisição do hábito de fumar dos adolescentes, o fumar é o resultado da pressão do grupo, muitos adolescentes não compraram o seu primeiro cigarro mas receberam-no dos seus pares.

Os indivíduos que fumam, frequentemente fazem-no com os amigos e fumar representa para eles uma atividade social. A influência das companhias, é um importante mecanismo para a manutenção do hábito pelo que, muitos adolescentes experimentam fumar em grupo. O comportamento e as atitudes dos pais em relação ao tabaco estão consistentemente associados ao hábito de fumar nos adolescentes. O comportamento dos pais embora não seja o único determinante do hábito de fumar dos filhos, mas pode influenciá-los.

Admite-se que a criança/adolescente que vê o pai e/ou a mãe fumar pode tender a imitá-los. Por outro lado os pais fumadores têm menos sensibilidade, predisposição e autoridade para desaconselhar o fumo dos filhos. Esta situação faz com que o adolescente possa ser condicionado pelo modelo dos pais e/ou não obtenha destes o necessário apoio, para o ajudar a resistir às influências pró-fumo que frequentemente encontra no seu ambiente natural e social.

Podemos afirmar que, o ambiente social em geral poderá contribuir para o desenvolvimento do hábito de fumar. As ações dos adolescentes refletem as atitudes, valores e normas da sociedade em que vivem, se veem o ato de fumar como um comportamento social, eles que querem ser como os adultos podem ver o tabaco como uma via para o ser.

É necessário que os adolescentes consigam desenvolver confiança e maturidade, como base contentora, de forma a resistir mais facilmente às pressões sociais para fumar, sendo um forte contributo para a redução da prevalência do tabagismo nos jovens. Embora o comportamento e a atitude dos pais e dos amigos sejam fatores muito importantes na adoção do comportamento de fumar, é razoável admitir que as crianças/adolescentes serão mais facilmente fumadoras se forem encorajadas a fazê-lo, pelas pressões fora do círculo da família e dos amigos.

Podemos referir também, que a publicidade é um fator ambiental muitas vezes apontado como responsável pelo desenvolvimento do comportamento de fumar. A publicidade ao tabaco promove a ideia de que fumar proporciona maturidade, confere um ar de rebeldia, proporciona fantasia, arrojo, aumenta o rendimento físico e às raparigas confere a tão desejada independência, sofisticação, segurança e o famoso sex-appeal.

Fumar começa, cada vez mais, a ser um hábito feminino, o que levou alguns autores a estudar as diferenças de motivação entre os adolescentes de ambos os sexos.

De acordo com Miller e Slap (1989) citados por Precioso (1999) foram definidos 3 fatores relacionados com o tabagismo nos adolescentes:

  • Comportamento tabágico da família.
  • Comportamento tabágico dos amigos.
  • Conhecimentos e atitudes sobre o tabaco.

Concluiu-se que a literatura sustenta uma consistente relação do tabagismo dos adolescentes, com os três fatores acima mencionados, ou seja, o consumo de tabaco dos pais, se houver comportamentos tabágicos acentuados, e se o grupo de amigos que o indivíduo tem for de fumadores. Todos estes aspetos vão influenciar o comportamento de fumar nos indivíduos.

Podemos afirmar, que a vida familiar não oferece a muitos adolescentes um apoio firme na vida e é para as escolas que as comunidades se voltam em busca de corretivos para as deficiências dos adolescentes na área das competências sociais. Mas as escolas por sua vez não têm preparação para dar resposta às necessidades dos alunos. Isto exige grandes modificações, que os professores vão mais além da sua missão tradicional e que haja uma parceria saúde/escola.

Julgamos importante referir que os Encarregados de Educação, estivessem atentos e estabelecessem mais diálogo com os seus educandos, sobre comportamentos de saúde.

Hoje em dia, nota-se uma grande falta de conversação entre pais e filhos, o que leva muitos adolescentes a terem poucos ou nenhuns objetivos, não sabendo que rumo dar às suas vidas.

Verifica-se que a maioria das famílias portuguesas não têm tempo para os seus filhos, talvez por profissões exigentes demais, ou por descuido, ocupando o tempo com outras tarefas que não é propriamente a formação e a educação dos filhos. Por vezes, o trabalho exaustivo e as horas tardias que regressam a casa, leva a uma incompatibilidade de horários entre ambos.

Finalmente, quando se consegue arranjar um encontro em casa entre todos, os filhos preferem jogar jogos de computador e os pais preferem ver televisão à hora das refeições. Tudo isto, leva a uma grande ausência e a um grande desencontro entre todos que vivem na mesma casa, não se estabelecendo prioridades. 

Pode-se dizer, que a tradição já não é o que era, o conceito de família está-se a perder com o tempo, bem como os valores e princípios. Seria importante os pais estabelecerem mais contato e diálogo com os seus filhos, para que o futuro das novas gerações seja mais feliz e saudável.

Julgamos importante que os Encarregados de Educação, estivessem atentos e estabelecessem mais diálogo com os seus educandos, sobre comportamentos de saúde, dando especial atenção ao início da adolescência, que é entre os 10 e os 11 anos aproximadamente, pois é nessa fase que o adolescente começa a procurar a sua identidade.

 

Referências Bibliográficas

Precioso, A. (1999). Educação para a Saúde na Escola: Um Estudo sobre a Prevenção do Hábito de Fumar. Braga: Editor Livraria Minho.

Sofia Andrade

Sofia Alexandra de Jesus Andrade é psicóloga, especialista em Psicologia Clínica e de Aconselhamento. É Membro da Ordem dos Psicólogos Portugueses, e Membro Associado do MDM. É também membro de uma IPSS em Lisboa. É licenciada em Psicologia e Mestre em Psicologia Clínica e de Aconselhamento pela Universidade Autónoma de Lisboa, tendo realizado um mestrado via profissionalizante na Comissão de Proteção de Crianças e Jovens do Seixal, onde adquiriu competências pessoais e sociais com crianças e jovens em risco, onde atualmente trabalha. Realizou também um estágio de Licenciatura no Gabinete de Saúde Ocupacional da Câmara Municipal do Seixal, tendo desenvolvido um estudo sobre o levantamento do Absentismo Prolongado dos trabalhadores, bem como consultas de desabituação tabágica. Para além de ser formadora certificada pelo IEFP, e apoiar várias causas sociais, é participante ativa em causas voluntárias. Atualmente dedica-se também à escrita sendo autora do livro intitulado: “Crianças e Jovens em Perigo. Estudo de Casos Clínicos. 2.ª edição”, pelas Edições Vieira da Silva.

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