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A coragem de se ir ao encontro do vazio

2017
joana_s.j_rodrigues@hotmail.com
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2017-12-23

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A coragem de se ir ao encontro do vazio

A necessidade de se dar sentido às coisas, a necessidade de se encontrar um ou vários sentidos à vida, o encher de sentido o que nos rodeia, acaba por ser algo necessário e essencial em determinados momentos, em maior ou menor grau, mas necessário! Segundo Nietzsche: “Aquele que tem uma razão para viver pode suportar quase tudo”.

Sem esse sentido, o dia-a-dia pode-se tornar mais longo e pesado... abrindo a possibilidade de surgir o “vazio existencial”, que pode surgir perante determinadas situações, algumas delas de intenso stress, na vida de uma pessoa, nomeadamente lutos e perdas vividas ao longo da vida. Quando uma situação inesperada surge, nos primeiros momentos é um choque e é necessário tempo para se dar sentido a essa nova situação. Essa sensação de vazio e consequente perda de vontade, pode permitir o desenvolvimento de uma depressão ou algumas outras perturbações psicológicas, caso se fique agarrado à situação (de perda por exemplo) e esse vazio for perdurando no tempo.

Quando uma pessoa se vai envolvendo nesse seu vazio existencial, muitas vezes descrito como uma espiral, pode levar cada vez mais a um desajuste emocional e uma grande dificuldade da pessoa se auto regular. A falta de sentido na vida pode fazer com que a própria existência perca o seu significado, e a pessoa vai-se sentindo vazia, abandonada, desvalorizada e insignificante.

Pode-se ir tentando fugir desse vazio e dessa dor: ocupar o tempo com actividades e com pessoas, procurar escapes (muitas vezes adições), mas essa fuga não vai mudar esse vazio, ele vai continuar lá. No entanto, o vazio existencial pode ser preenchido, pode ser compreendido, pode ser apaziguado e acolhido, pode ser cuidado e abraçado, pode-se ir enchendo esse vazio com calor, ternura e afecto, e dando sentindo às experiências vividas e à vida.

A coragem de se ir ao encontro desse vazio, compreendê-lo, dar-lhe um sentido, irá permitir a pessoa conhecer as suas próprias necessidades para o poder preencher com o que lhe mais falta.

 

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

Joana de São João Rodrigues

Joana de São João Rodrigues é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. É Pós-Graduada em Educação Social e Intervenção Comunitária e Membro Associado da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva. É Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua. Desenvolveu actividade clínica de apoio a doentes com doença oncológica e seus familiares no Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil do Centro Regional de Oncologia de Lisboa, no Serviço da Clínica da Dor. Deu apoio psicológico às famílias e crianças com cardiopatias congénitas internadas no Hospital Vall d'Hebron para cirurgia através da Associació d'ajuda als Afectats de Cardiopaties Infantils de Catalunya (Associação de ajuda aos Afectados por Cardiopatias Infantis da Catalunha), em Barcelona. Desenvolveu actividade de apoio às necessidades das mulheres vítimas de violência doméstica/abuso sexual, pela Associação de Mulheres Contra a Violência, em Lisboa. Esteve integrada em diversos projectos de Cooperação Internacional, onde deu formação na área da promoção da saúde em Angola e Guiné-Bissau e foi técnica de cuidados continuados integrados de saúde mental na Associação para o Estudo e Integração Psicossocial, em Lisboa. Desde 2011 exerce clínica privada com jovens, adultos e seniores e desde Março de 2016 que integra a Equipa da ClaraMente - Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, com o objectivo de promover a saúde mental e a qualidade de vida, disponibilizando serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia em consultório em Lisboa e Caldas da Rainha. Desde Abril de 2019 que trabalha no Hospital Lusíadas em Lisboa, nas Unidades de Tratamento de Dor e Oncologia.

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