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A importância da humildade no crescimento pessoal

2017
jvalerio@netcabo.pt
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2017-10-08

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A importância da humildade no crescimento pessoal

A humildade tem sido, ao longo do tempo, um conceito pouco compreendido e muitas vezes associado a um significado de fraqueza, subserviência, pobreza ou a uma aparência descuidada e despojada.

No entanto, se formos à origem etimológica da palavra humildade, vamos descobrir que ela é derivada no latim, de “humus” que designa terra. A palavra homem, derivada do latim “homo”, curiosamente também tem a sua origem no termo “humus”.

Assim sendo, a humildade pode ser entendida como um  processo psicológico a partir do qual o indivíduo se relaciona consigo e com os outros de forma realista, mantendo “os pés assentes na terra” e reconhecendo as suas limitações e fragilidades, na medida em que fazem parte da sua verdade e da sua natureza.

Esta capacidade de aceitação e de tolerância dos aspectos mais vulneráveis e dolorosos da nossa personalidade, sem os afastarmos por recurso à repressão, dissociação ou projeção, implica a existência de algum grau de maturidade psicológica que também nos vai permitir estabelecer relações interpessoais sustentadas sobretudo na compreensão em vez de ser no julgamento e na crítica.

A tranquilidade que a humildade proporciona ao assegurar o indivíduo da sua identidade, na qual estão integradas as suas forças e as suas limitações, incrementa definitivamente a qualidade dos seus relacionamentos.

O indivíduo com humildade consegue aceitar que, em certos momentos da sua vida, necessita de ser cuidado e é capaz solicitar e de receber esse cuidado por parte do outro sem se sentir rebaixado e humilhado.

Em contrapartida, as pessoas que durante o seu processo de crescimento vivenciaram situações de carência e de dependência em que se sentiram humilhadas e desconsideradas, poderão ter mais dificuldade em aceitar o receber do outro na medida que a sua auto-estima está sustentada na capacidade de completa auto-suficiência e de independência. E é aqui que humildade e humilhação se confundem, impedindo o processo de troca, fundamental à vida, através do dar e receber.

Transformar humilhação em humildade é o caminho que permite resgatar o prazer não só de dar mas também de receber, enriquecendo as trocas humanas e permitindo o acesso a um sentimento essencial: a gratidão.  Gratidão, não só por estas trocas relacionais que nos permitem sair de uma posição de “orgulhosamente sós” para uma vivência de colaboração, solidariedade e afetos mas também por tudo aquilo que a vida nos pode proporcionar em termos de prazer e de aprendizagem.

 Na humildade está inerente a consciência da limitação do nosso saber e a disponibilidade permanente para aprender, com todas as pessoas, independentemente do seu grau de instrução, idade, profissão ou extrato social, respeitando diferentes pontos de vista.

Na humildade existe a consciência da finitude e de como tudo é efémero e transitório, pelo que as conquistas e os sucessos não passam de situações momentâneas e as condições de superioridade (instrução, conhecimento, extrato social) não devem ser usadas com arrogância para rebaixar o outro ou para gerar uma atitude de autoengrandecimento.

Pessoas que se classificam pretensiosamente humildes através de manifestações anti-beleza/sucesso/dinheiro não são genuinamente humildes porque aquilo que verdadeiramente as move e sustenta é uma necessidade de enaltecimento ou um desejo de superioridade. Quem quer mostrar que é humilde não é realmente humilde.

Quando é genuína, a humildade pode estar presente em qualquer contexto ou condição de vida, não é exclusiva de nenhum extrato sócio-económico e acima de tudo é uma expressão de maturidade psicológica e saúde mental.

Joana Valério

Joana Valério é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Especialista em Psicologia da Educação. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia (área de especialização de Psicologia Clínica) pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). Realizou formação em Psicoterapia Psicanalítica pela Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica e é Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Desenvolveu atividade clínica no Serviço de Psicologia e na Equipa de Almada (consulta externa e internamento) do Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, ao nível da avaliação psicológica e psicoterapia. Exerceu atividade como formadora e, desde 2012, é técnica do Centro de Recursos para a Inclusão da Cerci, integrada no projeto de parceria com os agrupamentos de escolas locais, onde presta acompanhamento psicológico e psicopedagógico aos alunos referenciados com necessidades educativas especiais. Exerce clínica privada e, desde Março de 2016, integra a Equipa da ClaraMente, Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, que visa a promoção da saúde mental e da qualidade de vida daqueles que a procuram.

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