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Quando o chão nos falta... e o lugar da Esperança

2017
ana.luisa.oliveira.msc@gmail.com
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2017-02-06

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Quando o chão nos falta... e o lugar da Esperança

Há momentos em que, de forma mais ou menos esperada, damos por nós sem chão, mas também não estamos a cair... Estamos ali, angustiados. E, ainda que possamos ter uma restiazinha de esperança... estamos apavorados pela certeza de que vamos cair... E magoar-nos! Pior, não sabemos como é que vamos cair... quando é que vamos (finalmente?) cair, ou quanto nos vamos magoar. Ou ainda, em última instância, se vamos sequer sobreviver à queda. Não sabemos como é que se vive sem chão. Achamos muitas vezes que talvez nem seja possível fazê-lo.

E, no entanto, fazêmo-lo. Aprendemos pela experiência... Como um bebé que é atirado à água ainda antes de ter aprendido a nadar e, instintivamente, se move de forma a manter-se à tona, vamos, avançamos, deixamo-nos cair, ou reagimos antes da queda. Mas vivemos.

Por vezes, chegamos lá abaixo, ao fundo... e é muitas vezes aí que temos a oportunidade de recomeçar. De pés assentes, subir de novo.

Mas, tantas vezes, uma nova angústia, um outro momento de desespero, de solidão, diz-nos que não somos capazes, que não vamos conseguir, sem esperança.

Esta é uma “emoção”, um conceito, cuja reputação deixa, frequentemente, algo a desejar. Por vezes podemos achar que é uma característica associada a quem ingenuamente vive feliz na ignorância. No entanto, esta característica, ou mesmo competência, é essencial.

Não é ela, por si só, que nos vai “salvar” ou cumprir os nossos objectivos. Mas ajuda.

Quem tem esperança, tem também o desejo e a determinação de que os seus objectivos serão alcançados, e tem ainda uma série de estratégias (e a capacidade para as procurar e encontrar) para atingir esses objectivos ao seu dispor. A esperança permite-nos olhar os obstáculos com a perspectiva confiante de quem vai conseguir ultrapassá-los e, por isso, estamos mais dispostos a olhar à volta, a procurar formas, caminhos, ferramentas, para o conseguirmos. Ou seja, a esperança não corresponde apenas à vontade ou desejo de se chegar a determinado lugar, mas também às diferentes formas para lá chegar.

 

Ana Luísa de Castro Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.

 

Ana Luísa de Castro Oliveira

Ana Luísa de Castro Oliveira é Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica e da Saúde. É Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses, e Membro Associado da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva (APTCC). É Licenciada em Psicologia e Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde pela Universidade de Évora, tendo realizado também Pós-Graduação em Psicologia Comunitária e Protecção de Menores, no ISCTE-IUL, e em Psicoterapia, na APTCC.
Desenvolveu atividade clínica com crianças, adolescentes e adultos no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital do Espírito Santo (Évora), onde integrou também a Equipa de Saúde Mental Infantil. Paralelamente à actividade clínica em contexto privado, dinamizou atividades de promoção de competências pessoais e sociais com crianças e jovens em risco, bem como apoio psicossocial às suas famílias, no Bairro da Quinta do Loureiro, em Lisboa.
Integrou uma equipa multidisciplinar de intervenção comunitária no concelho do Seixal, onde realizou diversas atividades de promoção de competências pessoais e sociais com crianças e jovens em risco de exclusão, atividades de promoção e apoio à empregabilidade, sessões de acompanhamento psicológico individuais e de aconselhamento parental com famílias em situação de vulnerabilidade.
Atualmente exerce clínica privada com adultos em Lisboa e Almada, e é Bolseira de Investigação no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Desde Março de 2016 que integra a Equipa da ClaraMente - Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, que, através dos seus serviços em consultório, domicílio e via online, tem como objectivo promover a saúde mental e a qualidade de vida de jovens, adultos e séniores.

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