PUB


 

 

Às vezes, ou quase sempre, é preciso coragem

2016
juliana.edinarchaves@gmail.com
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2016-12-12

A- A A+
Às vezes, ou quase sempre, é preciso coragem

Quem nunca desejou ser uma pessoa corajosa? Quem nunca pensou em conseguir enfrentar aquele desafio que parecia impossível, sem receios?

Todos já passamos por momentos de indecisão, nos quais nos sentimos ansiosos ao ter que lidar com uma situação difícil. Nesse momento, nosso corpo responde com várias alterações fisiológicas que tendem a influenciar nosso comportamento, alterações essas que, muitas vezes, são fruto do medo e fazem parte do processo de tomada de decisão do ser humano, uma espécie de resposta à contingência. Porém, algumas pessoas acabam por sentir culpa ao vivenciar esses sintomas e associam o medo à falta de coragem. Será realmente a coragem, a ausência do medo?

A ideia de que corajoso é aquele que não sente medo é algo mais comum do que imaginamos. Todavia, é justamente mediante o medo, e apesar deste, que é fatível exercer coragem, ou seja, o medo existe e nos resta sobrepô-lo.

Na leitura do livro “Quem é você quando ninguém esta olhando?” o autor Bill Hybels, ao apresentar a coragem como sendo um traço importante para se constituir um bom caráter, não a trás vagamente, isto é, ele a relaciona a questões já vivenciadas em sua história de vida.

O autor relata que o pai, após ter comprado um veleiro na Irlanda, atravessou o oceano Atlântico até aos Estados Unidos, passando pelo crivo, enfrentando tempestades, furacões, diversas dificuldades e desafios, colocando-se diante de escolhas muitas vezes cruéis, mas necessárias, para que pudesse prosseguir e chegar a seu destino.

Bill, ao descrever o evento, volta à figura do pai, vinculando-a ao símbolo de um herói, o que fortalece a proximidade entre ambos e favorece o nascer do desejo de seguir os passos do pai e tornar-se como ele. O autor começa, a partir daí, a trabalhar traços que o façam aproximar-se de um dos componentes do caráter do pai: a coragem.

Rubem Alves, ao escrever sobre a Coragem de Mudar, menciona alguns pontos que podem ser importantes quando falamos sobre coragem. Para o autor, se antes vivíamos em uma ótica de que precisaríamos manter nossas escolhas até a morte, hoje as pessoas descobriram que podem mudar, que é possível mudar a direção do voo.

Seja em um relacionamento, em uma profissão, ou em uma carreira infeliz, é possível escolher novamente. Talvez você tenha tomado o trem errado e seja necessário saltar na próxima estação. “Se não quero ir para as montanhas, se quero ir para a praia, por que continuar a dirigir o carro pela estrada que vai para as montanhas?” (RUBEM ALVES).

Reconhecer que terá que tomar a direção contrária resultará em incomodo, e seu corpo responderá a esse desconforto. Mas há de se ter coragem... É preciso coragem!

E você, se acha corajoso? Acredita que é possível tornar-se corajoso? Já pensou o quanto de coragem foi necessário para estar onde está hoje?

Pode ser que você não tenha um exemplo de coragem tão nítido quanto o de Bill. Talvez você o tenha mas ainda não pensou sobre isso. Pode ser que tenha tido coragem para iniciar seu projeto, mas esteja se deixando levar pelo medo de “não vai dar certo”, ou não deu certo e é necessário novas estratégias.

No processo de Orientação de Carreira e de Orientação Profissional, após a aplicação de técnicas e testes, os participantes se deparam com sentimentos diversos; afetos positivos e negativos que fazem um movimento em suas convicções psíquicas, convidando-os a ter coragem para reestrutura-los. Através do autoconhecimento é possível identifica-los, identificar os reforçadores positivos e negativos ao longo de sua história e, a partir daí, traçar projetos mais próximos de sua realidade.

Pode ser que descubra que ser veterinário, apesar de ser o sonho de seus pais, não é o que lhe faz feliz. Pode ser que aquela carreira que escolheu, e a qual contribui para seu status social, não lhe trás realização e talvez seja preciso mudar...  Será preciso coragem! E por que não, começar a pensar sobre isso hoje.