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Como resolver os seus problemas de ansiedade e depressão?

2019
andradesofia958@gmail.com
Mestre em Psicologia Clínica e de Aconselhamento. Formadora certificada pelo IEFP
Publicado no Psicologia.pt a: 2019-06-02

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Como resolver os seus problemas de ansiedade e depressão?

Muitas pessoas acreditam que a ansiedade e a depressão são problemas opostos, mas a verdade é que ambos os transtornos podem “andar de mãos dadas”. Não é invulgar alguém com diagnóstico de depressão descobrir que também sofre de ansiedade. Importa explicar que a ansiedade, é um sentimento natural do ser humano e até certo ponto essencial para a nossa evolução. Pode ajudar a nos preparar para situações de fuga, resolver problemas e a nos proteger de alguma situação menos positiva.

Porém, nalgumas pessoas a ansiedade pode se tornar patológica, não estando relacionada a nenhuma situação específica, sendo os sintomas intensos e impedindo o indivíduo de realizar as suas tarefas de forma rotineira. O transtorno de ansiedade surge quando a pessoa se torna incapaz de relaxar, com pensamentos fixos e obsessivos sobre determinado assunto, aumentando o cansaço e as insónias. Tudo isso, torna a vida do indivíduo mais complicada, com prejuízos sociais e dificuldades nos relacionamentos, no emprego, e em várias áreas da sua vida.

De acordo com o DSM IV ou o CID 10, o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) é caracterizado pela ansiedade excessiva e preocupação exagerada com situações da vida quotidiana sem motivos óbvios. Indivíduos com sintomas de transtorno de ansiedade generalizada estão em constante estado de preocupação, medo e pânico. Eventualmente, a ansiedade domina o pensamento do indivíduo, interferindo no seu funcionamento normal, como no trabalho, nas atividades sociais e relacionamentos.

No quadro da depressão, a pessoa se sente profundamente triste, desanimada e com baixa autoestima. É importante perceber que a tristeza não é patológica, sendo normal ficarmos por vezes mais “pra baixo”, principalmente quando ocorrem situações difíceis, como por exemplo: o fim de um relacionamento, perda de emprego ou a morte de alguém próximo.

Porém, na depressão a tristeza é mais profunda e até duradoura, em que o paciente não encontra, saída para aquela situação. Muitas vezes, o distúrbio é causado por uma alteração química no cérebro, que leva à queda de neurotransmissores importantes como: a serotonina, a dopamina e a noradrenalina.

Além da tristeza, o depressivo também pode se sentir irritado, pessimista e com uma sensação de vazio muito intensa. Nalguns casos, é normal que ambos os problemas apareçam juntos ou que um seja resultado do outro. Por exemplo, uma pessoa que sofre de transtorno de ansiedade durante muitos anos, com o tempo e sem tratamento adequado, poderá vir a desenvolver um quadro depressivo ou vice-versa.

Uma possível explicação para essa ligação ocorrer,  é devido aos pensamentos negativos do ansioso, funcionarem como quadros depressivos. Embora a ansiedade possua sintomas muito fortes, várias pessoas evitam sair de casa com medo das crises, o que pode levar à depressão. O Transtorno de Ansiedade Generalizada afeta a forma como o indivíduo pensa, e leva a sintomas físicos como por exemplo: dificuldade em controlar o medo, durante vários dias, por um período superior a seis meses. Além disso, é preciso apresentar três ou mais sintomas, nomeadamente:

  • nervosismo constante;

  • dificuldades de concentração;

  • pressentimentos negativos;

  • medo constante;

  • preocupação exagerada que não condiz com a realidade;

  • pensamentos descontrolados e obsessivos sobre determinada situação ou problema;

  • dificuldades para dormir e insônia;

  • sono não reparador;

  • irritabilidade;

  • dor ou aperto no peito;

  • falta de ar ou respiração ofegante;

  • tremores nas mãos e em outras partes do corpo;

  • mãos geladas e suor frio;

  • boca seca;

  • fadiga;

  • dor de barriga ou diarreia;

  • dores de cabeça;

  • tensão muscular;

  • náuseas e vômitos.

Um tipo comum de transtorno de ansiedade é a síndrome do pânico, em que o paciente poderá apresentar sintomas mais específicos, como:

  • sensação de morte;

  • nervosismo e pânico incontroláveis;

  • vertigens e tonturas;

  • sensação de desmaio;

  • problemas gastrointestinais;

  • respiração e batimentos cardíacos acelerados.

Algumas vezes, os sintomas físicos da ansiedade e da síndrome do pânico são tão intensos que o indivíduo pode acreditar estar a ter um enfarte ou outros problemas de saúde, mas na realidade isso não se verifica.

Importa referir, que a depressão tem sintomas diferentes, dependendo de cada pessoa, alguns são mais comuns e ajudam a identificar quando alguém está depressivo, nomeadamente:

  • falta de motivação;

  • apatia;

  • problemas de concentração;

  • falta de interesse nas atividades que antes lhe davam prazer;

  • irritabilidade;

  • raciocínio lento;

  • esquecimento;

  • aumento ou perda do apetite;

  • medos que antes não existiam;

  • angústia;

  • sensação de vazio;

  • indigestão;

  • dor de barriga ou constipação;

  • dores no corpo;

  • tensão muscular;

  • pressão no peito;

  • isolamento social.

Em contexto de setting profissional, recordo-me que nem sempre o indivíduo depressivo abandona as suas atividades diárias. Muitas pessoas continuam a trabalhar, e a ter uma vida social com depressão, escondendo de todos os seus sintomas e tentando “agir normalmente”, embora se sintam tristes, vazios e ausentes por dentro.

 

Qual o tratamento para a ansiedade e depressão?

Hoje em dia, o tratamento mais usado para a ansiedade, ainda é o farmacológico, com recurso a medicamentos que atuam nos seus sintomas. A toma de calmantes, para além de causar dependência e potenciar o aparecimento de vários efeitos secundários, para muitas pessoas não é a solução.

Na grande maioria dos casos, trabalhar nas causas da ansiedade é a solução mais adequada. A Psicoterapia é a ciência que trabalha as causas das perturbações mentais, sendo um dos processos extremamente recomendados para as pessoas que sofrem de transtorno de ansiedade. Durante a psicoterapia, o indivíduo aprende a reconhecer e a mudar os seus padrões de pensamento e comportamento que levam a sentimentos ansiosos. A terapia ajuda a limitar o pensamento distorcido e analisar as preocupações de forma mais realista.

Além disso, técnicas de relaxamento, respiração profunda, meditação, ioga, e alimentos ricos em triptofano, são ótimos aliados no humor, proporcionando uma sensação de bem-estar, de forma a ajudar na formação de serotonina, uma substância presente no cérebro que facilita a comunicação entre os neurônios, regulando o humor, a sensação de fome e o sono. Também são grandes aliados no processo psicoterapêutico a prática de exercício físico e técnicas de mindfulness, contribuindo para a saúde e bem-estar do indivíduo.

Sofia Andrade

Sofia Alexandra de Jesus Andrade é psicóloga, especialista em Psicologia Clínica e de Aconselhamento. É Membro da Ordem dos Psicólogos Portugueses, e Membro Associado do MDM. É também membro de uma IPSS em Lisboa. É licenciada em Psicologia e Mestre em Psicologia Clínica e de Aconselhamento pela Universidade Autónoma de Lisboa, tendo realizado um mestrado via profissionalizante na Comissão de Proteção de Crianças e Jovens do Seixal, onde adquiriu competências pessoais e sociais com crianças e jovens em risco, onde atualmente trabalha. Realizou também um estágio de Licenciatura no Gabinete de Saúde Ocupacional da Câmara Municipal do Seixal, tendo desenvolvido um estudo sobre o levantamento do Absentismo Prolongado dos trabalhadores, bem como consultas de desabituação tabágica. Para além de ser formadora certificada pelo IEFP, e apoiar várias causas sociais, é participante ativa em causas voluntárias. Atualmente dedica-se também à escrita sendo autora do livro intitulado: “Crianças e Jovens em Perigo. Estudo de Casos Clínicos. 2.ª edição”, pelas Edições Vieira da Silva.

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